A indústria de energia eólica offshore registrou crescimento médio anual de 10% na última década, embalada por avanços na capacidade instalada na China e em países como o Reino Unido. No Brasil, que se prepara para instalar os primeiros aerogeradores no mar e entrar oficialmente no mercado, o SENAI do Rio Grande do Norte acelera discussões e o passo para a formação de profissionais que vão atender à nova demanda.
Segundo a Associação Brasileira de Energia Eólica e Novas Tecnologias (ABEEólica), milhares de trabalhadores serão necessários nos próximos anos para dar vazão à construção e operação das usinas.
“O offshore é a próxima fronteira brasileira para a geração de energia. Temos aí um novo horizonte, um novo mercado, uma oportunidade para o país com as melhores condições de vento do mundo, e as pessoas precisam estar preparadas para o que irá surgir”, observa o diretor regional do SENAI-RN, Rodrigo Mello.
Em uma primeira grande aposta com foco na atividade, a FAETI – Faculdade de Energias Renováveis e Tecnologias Industriais da instituição – vai dar início em 2026 a um programa de pós-graduação pioneiro no país. As inscrições para o curso, uma especialização lato sensu com 40 vagas e duração de 14 meses, foram abertas em agosto, no site https://faeti.rn.senai.br/.
“Essa é uma especialização voltada à formação de pessoas para dimensionamento de parques, operação, manutenção e outras atividades fundamentais em etapas como desenvolvimento, implantação e funcionamento dos novos complexos”, diz o diretor, estimando que os primeiros parques comerciais entrarão em cena, no mar do Brasil, na virada da década. “Isso quer dizer que o país tem de correr. Tecnologia e formação de pessoas precisam andar na frente da demanda. Essas indústrias, esses parques que estão previstos, precisarão de tecnologia madura e de pessoas qualificadas para a sua implantação no país”, acrescenta.
A energia eólica offshore é a energia dos ventos gerada com turbinas instaladas no mar ou em grandes mananciais de água. A atividade já existe na Ásia, na Europa e nos Estados Unidos. No Brasil, os primeiros investimentos foram sinalizados para as regiões Nordeste, Sul e Sudeste do país.
“O setor, no Brasil, registrou seu interesse junto ao Ibama, indicando onde quer investir e a perspectiva de investimentos com o registro dos projetos para licenciamento. Nós evoluímos com a Lei nº 15.097, que disciplina o aproveitamento de potencial energético offshore no país, e agora o momento não é de compasso de espera, mas de necessidade de ajuste fino na legislação, de necessidade de o ambiente infralegal continuar a evoluir, com a regulamentação que ainda está pendente. Eu analiso que o setor e as suas instituições têm trabalhado nisso”, diz Mello.
Dados do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) mostram que 104 complexos eólicos offshore têm processos de licenciamento abertos no órgão – com a primeira licença prévia emitida este ano para o Rio Grande do Norte. O projeto, uma planta-piloto ou sítio de testes para estudos com foco na atividade, foi concebido pelo SENAI-RN, por meio do Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER).
Relatório 2025 do Conselho Global de Energia Eólica (GWEC) aponta que a indústria de energia eólica offshore alcançou 83,2 Gigawatts (GW) de capacidade instalada no mundo, em 2024. O crescimento de curto prazo, de acordo com o GWEC, está concentrado em mercados já consolidados, mas a atividade começa a se expandir para novas regiões, como Ásia-Pacífico, Sudeste Asiático e América Latina. Nesses locais, ainda segundo o relatório, governos vêm trabalhando em conjunto com a indústria para estabelecer políticas e regulações que acelerem o desenvolvimento do setor. Entre os países em destaque está o Brasil.
É em meio a esse cenário que o SENAI se movimenta de olho na nova indústria. “Nós já temos atuado firmemente na formação de pessoas, no desenvolvimento de tecnologias e na prestação de serviços para as indústrias de energia, ouvindo as empresas, construindo com elas as soluções que nascem aqui”, diz Mello.
“A criação da FAETI, a especialização em eólica offshore e as outras formações que temos agora ou nos planos não foram, portanto, uma decisão de virada de chave. Não foram uma mera oportunidade de mercado. Mas, sim, a busca por atender a mais uma demanda industrial, aproveitando a competência que desenvolvemos ao longo dos últimos 20 anos de trabalhos que têm envolvido as energias renováveis nos nossos centros e a infraestrutura de ponta que construímos para esse fim”, frisa. “O SENAI tem grande proximidade com a indústria e entendeu, a partir de provocações que recebeu dessa indústria, que estava faltando uma pitada na instituição, que era a pitada de ensino superior voltada ao setor”.
Especialização
Com início previsto para janeiro, o curso de pós-graduação em energia eólica offshore da FAETI será oferecido de forma presencial na sede da Faculdade, em Natal (Av. Capitão-Mor Gouveia, 2770 – Lagoa Nova), com aulas quinzenais, às sextas, sábados e domingos. A inscrição pode ser feita no site https://faeti.rn.senai.br/, na aba “Pós-graduação”.
O investimento na mensalidade será de R$ 1.030,00, (14 parcelas), com política de descontos que inclui 20% de abatimento no valor para trabalhadores da indústria, sindicatos vinculados ao Sistema Indústria, assim como para engenheiros e engenheiras registrados no CREA.
Estudantes concluintes do ensino superior de instituições públicas e o pagamento do valor total do curso, de uma vez, no cartão, terão redução de 10%. Pessoas com graduação em qualquer área de conhecimento podem participar.
Segundo a gerente acadêmica da FAETI, Patrícia Mello, “o curso atenderá a um público diversificado, incluindo profissionais de empresas de energia, consultorias, órgãos governamentais, acadêmicos, pesquisadores e gestores de políticas públicas”.
“A energia eólica offshore pode gerar centenas de milhares de empregos e movimentar a economia de forma significativa. Mas a falta de formação especializada é uma barreira ao desenvolvimento, segundo relatório do Banco Mundial, já que o setor exige profissionais preparados tanto para lidar quanto para liderar essa nova demanda”, diz a gerente. “O curso de pós-graduação em energia eólica offshore nasce para preencher essa lacuna, formando especialistas capazes de atuar de forma técnica e responsável nesse mercado emergente”.
A especialização trará um panorama global da energia eólica offshore, com conhecimentos que incluem meteorologia energética, aspectos técnicos e econômicos da integração da rede, legislação, fundações offshore e projetos de componentes mecânicos e elétricos. Construção e projetos de nacelle, rotor de aerogeradores, otimização de parques offshore, planejamento espacial marinho, política e regulação, licenciamento ambiental, além de impactos ambientais e sociais se somam à lista.
O corpo docente com mestres, doutores e especialistas de organizações como GWEC, ABEEólica, ISI-ER e órgãos reguladores, será, segundo o diretor do SENAI, um diferencial. “O curso é uma soma de competências e reúne especialistas que há muito tempo respiram esse setor”, diz.