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29 de março de 2023 ESG

Prática Circular: Energia solar e eólica entram na rota da reciclagem

Com avanço das fontes renováveis, surgem tecnologias para reaproveitamento de pás e painéis fotovoltaicos

A Vestas desenvolveu um processo químico capaz de decompor todos os elementos que integram as pás dos aerogeradores — Foto: Divulgação

A geração de energia por meio de fontes renováveis é uma das medidas essenciais na jornada da descarbonização em busca de um planeta mais sustentável. Por isso, é cada vez mais comum a instalação de parques eólicos, que geram energia a partir de torres com pás giratórias impulsionadas pelo vento, e de placas fotovoltaicas, capazes de produzir eletricidade a partir da luz do sol. Com a garantia de mais energia limpa para o sistema, o setor busca agora adotar processos de reciclagem e circularidade.

Hoje, o Brasil tem 919 parques eólicos em teste ou operação, com capacidade instalada de 26.210 Megawatt (MW). Somente em 2022, o setor cresceu 12,8% sobre o ano anterior. A energia criada a partir do vento já representa 13,1% da matriz de eletricidade, de acordo com a Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica). Na geração solar, o país encerrou 2022 com 24 mil MW de potência operacional solar e assumiu, de forma inédita, a oitava colocação no ranking internacional, segundo a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar).

Enquanto o segmento solar ensaia os primeiros passos em direção à reciclagem, com a criação da SunR, empresa especializada em reciclagem de placas fotovoltaicas, novos ventos poderão levar a circularidade ao setor eólico. Atualmente, 96% a 98% das pás são produzidas com resina à base de epóxi — uma substância resiliente, que se acreditava ser impossível de quebrar em componentes reutilizáveis. Consequentemente, as pás são descartadas em aterros, ao término de sua vida útil de 20 anos de uso. Uma solução para reciclá-las surgiu na Europa, em 2021, fruto da parceria da empresa global de energia sustentável Vestas com a Olin Corporation, fabricante e distribuidora de produtos químicos, e a Stena Recycling, que oferece serviços e soluções abrangentes em reciclagem e gestão de recursos.

Decomposição

Elas se uniram à dinamarquesa Universidade Aarhus e ao Danish Technological Institute na iniciativa CETEC (Economia Circular para Compósitos Epóxi Termoconversíveis) e criaram um novo processo químico capaz de fazer a decomposição de todos os elementos que compõem a pá, inclusive a resina epóxi. Desta maneira, será possível reciclar e promover a circularidade do produto. As organizações não revelam, porém, detalhes da inovação, que foi divulgada em fevereiro.

— O processo recentemente descoberto pode teoricamente transformar pás de turbinas à base de epóxi em uma fonte de matéria-prima para construir novas pás de turbinas. Como o processo depende de produtos químicos amplamente disponíveis, ele é altamente compatível para a industrialização e, portanto, pode ser expandido rapidamente — diz Mie Elholm Birkbak, especialista em Estruturas Avançadas da Vestas.

A próxima etapa, informa a empresa de energia, é trabalhar no desenvolvimento e operacionalização para a descoberta poder ser escalável, seja local, regional ou globalmente. Ou seja, não há, por enquanto, data sobre quando as pás recicláveis poderão chegar ao mercado. Até o momento, também segundo a companhia, ainda não há valores sobre custo que as pás deverão ter e o investimento total a ser feito no projeto. Os primeiros parques eólicos no Brasil têm cerca de dez anos.

— Atualmente, a Vestas já consegue reciclar cerca de 85% a 90% das turbinas. Nossa meta é ter até 2030 mais de 94% de materiais reciclados, para efetivar a estratégia da empresa de produção de 100% das turbinas zero waste até 2040 — diz Rodrigo Ugarte, vice-presidente de Aquisições Latam da companhia.

Na área fotovoltaica, Leonardo Gasparini Duarte, CEO da SunR, conta que precisou desenvolver um maquinário 100% nacional, que entrou em operação no fim do ano passado, para oferecer o serviço de reciclagem no Brasil:

— Existia demanda, mas faltava a tecnologia para reciclar aqui no pais. A máquina foi construída em um contêiner para que seja móvel. Se no futuro precisarmos deslocá-la para fazer a reciclagem no local, será possível.

Quando os módulos chegam à SunR, ocorre a retirada das estruturas metálicas para, posteriormente, todo o material ser moído na máquina. Depois deste processo, o conteúdo é separado por densidade e encaminhado para empresas que conseguem absorver a matéria-prima para a reutilização em outro mercado.

Máquinas quebradas

Diferentemente do que se poderia pensar, o descarte não ocorre exclusivamente no fim da vida útil. As montadoras de painéis solares, por exemplo, têm refugos e materiais que não passam no teste de qualidade, ou os contêineres com o material importado da China podem vir com equipamentos abaixo da qualidade esperada ou quebrados. Isso pode ser reciclado. Nelson Falcão, vice-presidente da Cadeia Produtiva da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), dá um exemplo tendo como base uma grande usina solar situada em Minas Gerais, com cerca de 1,3 milhão de painéis instalados.

— Numa planta desse porte, haveria de 20 mil a 30 mil painéis que seriam danificados durante a própria construção da planta, ou porque chegaram lá com algum defeito, ou se danificaram em algum momento da instalação — afirma.

Desta maneira, os clientes da SunR são principalmente as usinas solares, as fábricas de sistemas fotovoltaicos e os fornecedores. A SunR cobra dos clientes apenas os custos do frete, recolhendo o material conforme a demanda, por intermédio de empresas terceirizadas.

— Falta logística reversa para painéis solares no Brasil, uma porcentagem muito pequena dos resíduos é reciclada. O restante, é normalmente destinado a aterros — afirma Duarte.

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/2010) e o decreto 2.240/2020 disciplinam como deve ser feito o descarte correto. Quem não o faz está sujeito a multa.

(*) Colaborou Lara Madeira

Fonte: https://oglobo.globo.com/economia/esg/noticia/2023/03/pratica-circular-energia-solar-e-eolica-entram-na-rota-da-reciclagem.ghtml

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