Dez anos do Leilão de 2009 para eólicas
Em 14 de dezembro de 2009, o Brasil realizou um feito inédito até então: seu primeiro leilão para contratação exclusiva de fonte eólica. O Leilão de Energia de Reserva (LER nº. 03/2009) contratou 71 empreendimentos com uma capacidade somada de 1.805,7 megawatts (MW), ao preço médio de R$ 257,23 por MWh (atualizado para valores de hoje pelo IPCA). Na ocasião, um dado já demonstrava nossa potencialidade, porque estavam habilitados 10 GW de projetos, em 339 empreendimentos. O LER 2009 garantiu o investimento de R$ 9,4 bilhões na construção das usinas de geração de energia eólica, segundo cálculos do Ministério de Minas e Energia.
Podemos encontrar, no site da ANEEL, texto de alguns dias antes do leilão de 2009 afirmando que, naquele momento, o potencial brasileiro para esse tipo de geração poderia chegar a 145 GW, de acordo com o Atlas do Potencial Eólico Brasileiro do Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (Cepel), feito em 2001. Naquele ano, a potência dos parques eólicos em operação no Brasil era de cerca de 602 MW, que haviam sido negociados antes em leilão não exclusivos e incentivados, pelo PROINFA.
De lá para cá, muita coisa mudou. Fomos aprendendo, na prática, que o Brasil tem um dos melhores ventos do mundo para a energia eólica e nossa produtividade é um fator muito importante na grande competitividade do preço da eólica no Brasil. De 2009 para cá, o preço da eólica apresentou queda, sendo hoje negociado a pouco menos de R$ 100 o MWh. Já registramos preço de R$ 71 por MWh, mas há que se analisar a especificidade do momento em que isso aconteceu, em que havia uma grande quantidade de projetos represados, já que chegamos a ficar 24 meses sem leilão entre dezembro de 2015 e dezembro de 2017.
Um outro ponto de destaque de mudança é a estimativa do nosso potencial. É extraordinário lembrar que em 2009 achávamos que nosso potencial era de 145 GW e que hoje estimamos em cerca de 800 GW. O que mudou? Bom, como disse, nós aprendemos que nossos ventos são excepcionais e, aqui, os aerogeradores “rendem” mais. Além disso, as estimativas do atlas foram ficando mais detalhadas e, um fato muito importante: a evolução dos aerogeradores, ficando cada vez mais altos e potentes, permite que se aproveite ainda mais o nosso potencial que já é muito acima da média. Se a média mundial lida com um fator de capacidade na casa dos 25%, nós, aqui no Brasil, vemos fatores médios anuais passando dos 40%, sendo que em meses de “safra dos ventos” registramos fatores que passam dos 70%.
E se o avanço da energia eólica e o potencial dos nossos ventos chamaram atenção no Brasil, também é igualmente realidade que tais fatores nos destacaram no cenário global. No ranking do Conselho Global de Energia Eólica (Global Wind Energy Council – GWEC), ocupávamos, em 2012, o 15º lugar. Hoje estamos em 8º lugar e temos chances de ainda subir para a 7ª colocação em breve. É uma história de sucesso, sem dúvida. O GWEC acredita que, tanto em projetos onshore quanto offshore, a energia eólica é a chave para definir um futuro energético sustentável. E, no Brasil, o fato é que essa indústria segue de vento em popa. Estamos batendo recordes atrás de recordes, chegando a atender mais de 85% do Nordeste e seguimos instalando mais e mais parques. Há dez anos, tínhamos pouco mais de 0,6 GW instalados e estamos chegando ao final de 2019 com 15,3 GW de capacidade instalada em mais 600 parques e com 7.500 aerogeradores em operação. Até 2023 teremos, pelo menos, 21 GW de capacidade instalada. Digo “pelo menos” porque este valor contém apenas as quantidades dos leilões já realizados no mercado regulado. O mercado livre vem crescendo muito também e impacta nestas previsões, aumentando os valores.
Estes dez anos foram de muito aprendizado e bons resultados. O marco do primeiro leilão é algo a ser comemorado pelo setor, com especial consideração e destaque para o fato de que os leilões brasileiros são motivo de orgulho, permitindo grande competitividade com regras claras, o que serve de modelo para vários países. Além dos nossos bons ventos, também temos que celebrar nosso modelo de leilões do setor elétrico, ferramenta indispensável para um setor que tem crescido com responsabilidade, sustentabilidade e transparência e que, certamente, seguirá evoluindo para acomodar as inovações de negócio e de tecnologia. Quando olho para os negócios que cresceram graças aos nossos bons ventos hoje, vejo não apenas o potencial que agora já conhecemos, mas vejo também uma grande maturidade e eficiência, atitudes fundamentais para enfrentar todos os desafios que nos esperam com avanço tecnológico e que nos levam para o que chamo de novas fronteiras da eólica: os parques híbridos, os parques offshore, baterias e a expansão do mercado livre para as eólicas.
Elbia Gannoum é Presidente Executiva da ABEEólica – Associação Brasileira de Energia Eólica